322º Dia (2º dia de NF)

Ola meninas,

tudo continua a correr bem. Continuo de NF, aos poucos vou sentindo-me cada vez melhor. Cansada mas melhor.

Ontem tive a ver uma reportagem sobre obesidade. Ate tive pesadelos com aquelas pessoas. Dei-me conta que se eu fosse gorda como alguma daquelas pessoas sem sombra de duvidas eu matava-me. Houve uma época em que eu pesei quase 80quilos (há uns anos atrás) e eu sentia-me a pior pessoa do mundo. Foi nesse ano que eu tive uma grande luta com a Ana. Em um ano emagreci quase 40 quilos. Estava a pesar 45quilos quando me ameaçaram internar se eu não reagisse. Fiquei de cama por três meses, mas sentia-me bem comigo. Voltei a engordar mas só de pensar que posso transformar-me numa bola de banha o desespero bate-me e sacode-me o espírito, obrigando-me a ser forte.

Ser magra para mim não se trata só de vaidade como algumas pessoa que ao lerem este blog podem pensar. Não vou negar que sou um pouco vaidosa sim, mas dentro dos meus limites. Ser magra para mim é uma questão de amor próprio. Um acto de sobrevivência. 50% da população mundial esta acima do peso. Eu não quero pertencer a esses 50%. Não sou ana porque quis ser assim, na verdade acho que ninguém realmente quer. Sou assim desde que me lembro de mim. Aos 9 anos tinha o corpo de uma rapariga de 15 anos. Ninguém imagina a violência que isso foi para o meu corpo e para a minha mente. Eu sofri de crescimento precoce, o corpo crescia mais depressa que os ossos. Tive de lutar desde muito cedo para manter o meu corpo no lugar, não só falando de gordura mas também dos ossos e de tudo o resto. Aos 10 anos já sabia claramente o que se passava comigo e aos 12 já andava a fazer jogos psicológicos com a medica e a psiquiatra da escola. Não culpo a sociedade por isso, não culpo os meus pais, nem nenhuma das pessoas que passavam a vida a dizer que eu estava gorda. Eu realmente estava e estou. Não quero que ninguém seja como eu. E sim eu compreendo a dor de cada gordinho que aqui vem e não comenta. Sim eu entendo a dor da fome, da vergonha de comer sem conseguir parar, a dor de vomitar, a dor de não ter ninguém, a dor de lutar contra a corrente, a dor das Victoria graduais. Já passei por recuperações e não querendo deitar abaixo ninguém isso não passa de historias da carochinha. Um alcoólico pode fugir do álcool, um toxicodependente pode fugir da droga, um pedófilo pode-se fechar em casa. Mas alguém que sofre de TA não pode fugir da comida.

Entendam-me ou não, esta sou quem eu sou.